Um

O coração na garganta

Na ponta da faca

O ar que vira fumaça

O fogo que nunca apaga

Meus olhos, minha boca

Minha carne que sangra

Na pele queimada

Uma dor que canta

Sou só mais um

Sou só mais um

Espremido entre barras de aço

em cubículos quadrados

escombros e concreto rachado

escombros e concreto rachado

Disputando no braço

um pouco mais de ar e espaço

Mais um alguém sem nome

cheio de lembranças ruins pra guardar.

Sou só mais um

Sou só mais um

Ela

Ela lembra

Como se fosse um espinho

que perfura a pele até sangrar.

Um trapo que aos poucos se rasga

sem deixar nada além do vazio

A vida se desprende

O fim da infância

Sem moldes, sem abrigo

sem estrutura.

Só a raiva ou o vazio

Os músculos contraídos

No perfil da vítima

O grito que se desprende

Uma canção que se desfaz.

Ausente

Teu olhar, em um quarto de tempo,
longe do já presumido.
Alheio as nossas vontades,
num sorriso não mais presente,
uma emoção que não se repetiu.
Quase amor,
ausente,
que sem dor partiu.

Boa

Sua cabeça começa a girar
o cheiro é de enojar.
Encheu o copo até derramar
Mais uma pra calibrar
(O bebado do bar, bebeu até vomitar)
Adivinha quem acabou de chegar?
Eu sei que não devia mas vou lhe contar...
Esse é você amanhã

Frestas

Quase incapaz
é a minha menina dos olhos
cobertos de lágrimas
descontente com a vida.
Deixa respirar o ar doce da tua pessoa
Mostra o teu carisma de menina
De expressão zangada
não quer carregar a cruz imposta.
tem sede, mas não tem água
tem perguntas e não respostas.
Ríspidas palavras
de amor e abandono.
O tempo é severo
com sua tênue face.
O coração bate
com a fúria dos trovões
mas sua vóz se cala
enquanto o mundo gira
sem rumo, sem fim.
Me diz quem te machucou
Me diz em quem confiar
e onde depositar esperança
Me diz que lutou
que da pra acreditar
que um dia a gente volta a ser criança
Sem mais mocinhos, bandidos ou vítimas inocentes
Quando o mundo se cala
o silêncio nos diz tudo.

Terra Seca

Caminha na terra ingrata miséria e um pouco de imaginação.
Que bom é o cheiro da terra molhada
Folha seca aos pés
Pisa no espinho, trinca o galho e corta lenha de madeira seca
Pé cascudo na areia escaldada
Uma réstea de fé
Felicidade é uma brisa fresca de manhã
Noutro dia de sol
Frita a mente
E um alívio liberta
Faz miragem realidade
A água corre no ventre seco de um rio petrificado
Semeando esperança
Colhendo injustiça na mão
Um desejo de criança
Com paciência de ancião.

MACHO ALFA, GRIPE A

SEMPRE ESTIVEMOS DOENTES
SOMENTE OS SINTOMAS MUDARAM
SORVENDO GRIPES CAPITALISTAS
HITLER E OBAMA SE BEIJAM
BÊBES ABORTADOS E DEPRESSIVOS
APONTAM PARA O CÉU VERMELHO
DAONDE CAEM OS AVIÕES
E A DANÇA LENTA DA MORTE
CONTINUA SOPRANDO
EM STRIP TEASE
O GOVERNO SE DESNUDA
E A CADA PEÇA QUE CAI
MAIS AS CRIANÇAS FUMAM E BEBEM
E OS MACHOS ALFA
LÍDERES DAS MATILHAS
CONDUZEM UM MUNDO EM TRANSE
À CANTAR
PARA SEU PRÓPRIO PRECIPÍCIO

ORDEM DO DIA

CAVAR, CAVAR, CAVAR
O PRÓXIMO HOLOCAUSTO
QUE VAI NOS MATAR

ÁRABE

DE MINHA VALA-COMUM
VEJO O CÉU AZUL
E AS NUVENS
EM FORMATO DE ALGODÃO
ENTÃO FICO FELIZ
ATÉ A PRÓXIMA
BOMBA CAIR

PRA QUE(M) SERVE TUA POESIA???

A POESIA, BURGUESA,
SAI PARA AS RUAS
,COM SEUS OLHOS CLAROS,
,SUA MENTE "PROGRESSISTA",
PEDINDO PARA O MUNDO MUDAR
MAS QUEM É VOCÊ VADIA
QUE MINHA VIDA QUER RIMAR?
QUE ACHA QUE PODE FAZER ALGO
QUANDO NUNCA FAZ NADA
A POESIA FEDE
MAS EM PALAVRAS TENTA DEMONSTRAR
PERFUME
A ÚNICA POESIA POSSÍVEL
NESTES TEMPOS DE GUERRA
É AQUELA DA BARRICADA
É AQUELA DA VITRINE QUEBRADA
É AQUELA
QUE VEM DAS RUAS